domingo, 28 de abril de 2013

O homem sem sorte

Às vezes as coisas estão tão perto, mas insistimos que tem que ser do nosso jeito, nos nossos moldes e descartamos tudo que foge ao padrão. Somos cegos, ou melhor, com a visão deturpada pela midia, pela sociedade, por uma educação que se preocupa cada vez menos com os valores.
A felicidade está no dia a dia, nas coisas mais simples. Cada momento é especial. E somos nós, sim, que criamos a nossa realidade. Está tudo aqui.
O homem sem sorte
Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha tão violenta e carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol, era tão quente, que as cozinhava.
E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam mudavam de caminho, ou entravam para dentro de suas casas fechando portas e janelas, evitando-o.
Então além de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele. Analisando a situação de sua família percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua mãe, esta tinha sorte por ter se casado com seu pai, e seus irmãos eram muito bem sucedidos, pois então, se não era um caso genético, só poderia ser coisa do Criador.
E depois de muito pensar resolveu tomar uma atitude e ir até o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta.
Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um mês, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz:
- Moço, me ajude.
Ele então olhou para os lados procurando alguém. Até que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos, era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas.
Ele falou:
- Há três meses estou nesta situação. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar daqui.
O homem refeito do susto respondeu:
- Você está se queixando a toa... Eu tive azar a vida inteira. O que são três meses? Mas faça como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema.
- Se eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água... Faça este favor para mim. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo.
O homem fez um sinal de insatisfação e disse que estava muito preocupado com seu problema, mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho.
Andou um dia, um mês, um ano e um dia e de repente, ao tropeçar numa raiz, ouviu:
- Moço, cuidado.
E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo; olhando para cima, viu a árvore com apenas duas folhinhas. Levantou-se e observando suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco, falou:
- Você não se envergonha? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura.
A árvore, com uma voz de muita dor, disse:
- Não sei o que está acontecendo comigo. Estou me sentindo tão doente. Há seis meses que minhas folhas estão caindo, e agora, como vês, só restam duas...
E, no fim de uma conversa, pediu ao homem que procurasse uma solução com o Criador.
Contrariado, o homem virou as costas com mais uma incumbência. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido, com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa e na frente da casa estava uma moça muito bonita que o convidou a entrar.
Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo e quando já estava saindo ela lhe pediu um favor:
- Você que vai procurar o Criador, podia perguntar uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo, nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto.
O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, só podia ser a voz do criador...
- Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador...
E o homem contou então toda a sua triste vida. Conversou longamente com a voz até que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:
- Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem?
- Tem razão...
E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito. Depois de um tempinho virou-se e correu... mais rápido que o vento até que chegou na casa da jovem. Como ela estava em frente à casa, vendo-o passar chamou:
- Ei!!! Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria?
- Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte está há muito no mundo. Basta ficar alerta para perceber a hora de apanhá-la!
- E quanto a mim, você teve a chance de fazer a minha pergunta?
- Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro.
A jovem então abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro.
- Claro que não... Já trouxe a sua resposta... Não posso ficar aqui perdendo tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!!
Virando as costas, correu mais rápido do que a água, até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava dela. Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu caindo uma última folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o homem respondeu:
- Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte, e ela está no mundo. O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar este tesouro daí vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente.
- Por favor!!! Faça isto por mim!!! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia.
O homem deu um pulo e falou indignado:
- Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos na terra.
Virando as costas correu, mais rápido do que a luz atravessou a floresta, e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco.O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse:
- O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está a morrer de inanição, e como não tem forças mais para sair e caçar, vai morrer aí mesmo. A não ser, que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la.
Nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem "sem sorte".
"SOMOS O QUE FAZEMOS, MAS SOMOS PRINCIPALMENTE O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS".
Fonte: www.metafora.com.br

domingo, 7 de abril de 2013

Era uma vez um viajante

O texto a seguir eu retirei do livro Sonhos, do escritor espanhol J. J. Benitez. Boa leitura e boa reflexão!
Conheci um eterno viajante. Esse homem dedicou sua vida ao conhecimento e à investigação. Desde pequeno - desde que alguém falou-lhe pela primeira vez de um Deus infinitamente sábio e generoso - esse homem sentiu o desejo de ser viajante.
_ Se esse Deus existe - repetia - eu o encontrarei.
Tanto caminhou que esqueceu a cor da terra onde nascera. Interpelou os picos cobertos de neve. Mas os homens da neve não souberam responder-lhe. Naqueles cumes não conheciam o paradeiro desse Deus.
Então desceu até as planícies. Conviveu com os velhos feiticeiros, mas seus deuses eram de cana e fogo, de vingança e terror. Assim voltou para a cidade grande, o coração assaltado pela dúvida.
Interpelou os cidadãos:
_ Um Deus infinitamente sábio e generoso...?
_ Impossível! - responderam na grande metrópole. _ Esse Deus é uma quimera... Se realmente existisse, nós, os dirigentes do mundo o conheceríamos...
Meu amigo, o eterno viajante sentiu-se perecer. Parecia não haver dúvida de que esse Deus infinitamente sábio e justo era fruto apenas da sua imaginação. Ele se retirou, desconsolado, para as brumas de sua solidão. Em meio a essa solidão, meu amigo tomou uma decisão: faria uma última "viagem"...
E recolhendo-se em si mesmo, adentrou o espaço desconhecido de seu próprio coração. E lá teve a maior de todas as surpresas. No novo caminho, descerrado por uma casualidade, descobriu a paisagem mais luminosa e impressionante, nunca antes imaginada.
Aquele "novo mundo" - imaterial - tinha as formas por ele desejadas a cada instante. E todas as suas dúvidas foram solucionadas.
Seu corpo, aparentemente, não era mais de carne, nem de dor, desejo ou desesperança. Seu corpo era presente, passado e futuro. Tudo ao mesmo tempo. Era luz e força.
E conquanto não conseguisse ver ninguém, sentiu que "alguém" o acompanhava. Perguntou se ali, naquele "novo reino", conheciam o Deus infinitamente sábio e bondoso. Uma voz, surgida das profundezas de seu novo "ser", falou-lhe:
_ Por que buscas fora de ti AQUELE que está sempre dentro de ti?