domingo, 9 de dezembro de 2012

Oficina de contação de histórias

Oficina que irei ministrar aqui no Rio.

sábado, 10 de novembro de 2012

Vento

É a árvore que balança suas folhas num desastroso balé, é o jornal voando pela calçada, é a moça que passa segurando o vestido.
A sensação de um sopro gostoso invadindo nosso corpo, nossa vida, nossa alma, trazendo recordações de outras ventanias, trazendo lembranças boas como aquele sopro de felicidade que nos toma conta.
Pensar nas pessoas que nos são queridas, conhecidas ou não. O que estariam fazendo neste momento? Os passeios em dias frescos pela cidade, descobrindo coisas que não vemos em dias comuns, coisas simples, importantes, que passam despercebidas na correria do dia a dia.
É a magia do fim de semana, do feriado, das férias, de podermos olhar as plantas com seu suave balanço num ritmo calmo e mágico. Ouvir o som que elas produzem ao serem acariciadas e envolvidas pelo vento.
Olho para baixo e vejo uma formiga perdida num degrau de escada, tão perdida como um grão de poeira ao vento.
Poder invadir misteriosamente aquele outro mundo, que na verdade faz parte do nosso grande mundo. É como se o vento nos mostrasse tudo isso que não vemos por pura falta de tempo. Como se ele despisse a cidade, revelando toda a sua intimidade.
Existem alguns dias que temos vontade de guardá-los em uma garrafa e ir abrindo aos poucos, para saboreá-los com muita calma, sem pressa de viver.
Autoria de Alessandra Mourão

sábado, 25 de agosto de 2012

A história se repete ou Quem é irracional?

1876. Período de escravidão no Brasil. Fazenda Santa Helena. O sol ainda não surgiu e ele já está acordado. Começa mais um dia de trabalho. O calor é forte, a água escassa, mas ele continua a labuta diária.
Hora do almoço. Recebe uma papa mal cheirosa. Come com vontade em qualquer canto, até pelo chão sujo.
De volta ao trabalho. O sol escaldante não dá trégua. Calor, muito calor. O cansaço toma conta do seu corpo, agora já mais fraco. Uma parada para respirar. Ouve-se o barulho do chicote no seu lombo. Mais uma ou duas vezes e começa a sangrar. Logo as moscas chegarão.
De volta ao trabalho exaustivo. Longas jornadas ininterruptas. Tudo por um punhado de comida.
A história se repete
Época atual. Cidade do Rio de Janeiro. O sol ainda não surgiu e ele já está acordado. Começa mais um dia de trabalho.
Latas de alumínio, papelão, plástico, vidro. Se tiver sorte poderá achar ferro ou cobre. Todos esses materiais são vendidos e reciclados.
O sol brilha imponente no céu, verão, calor forte. Hora do almoço. É a primeira refeição que entra no seu estômago hoje. Pouca quantidade, fome voraz.
De volta ao trabalho. Ele já andou vários quilômetros. Tem muita coisa para carregar, mas ele ainda vai levar mais. O calor já aumentou muito nessa altura da tarde. O sol parece torrar os seus miolos, a água é escassa.
Uma parada para respirar. Ouve-se o barulho do chicote. Na mesma hora, Tito, o cavalo, com as patas trêmulas de exaustão, continua puxando a charrete carregada de sucata. Trabalhando o dia todo em troca de comida. Ele não reclama, não xinga, não rouba, não mata o seu semelhante. Merece dignidade e respeito.
Quem é irracional?
Autoria de Alessandra Mourão

sábado, 11 de agosto de 2012

Louco

Louco. Todos são
Todo mundo já chamou alguém de louco. Fazemos isso, mas no fundo, sabemos que não são. É uma maneira de dizer que o outro fez algo diferente, fora dos padrões, além do esperado. Geralmente, são coisas ruins. Ruins para a gente, para o louco, talvez não.
Existem pessoas de todos os tipos: sãs, neuróticas, saudáveis, doentes, honestas, desonestas. Essas pessoas não convivem com a gente? Quem disse? Pode ter certeza que estão por aí e nem percebemos.
O louco não tem coerência. Mas algum louco deveria ter? Conversas sem sentido jogadas ao vento. Alguém conversa com sentido nesse mundo? Comecem a reparar nas conversas dos outros ao celular. E até nas suas. E um tal de falar que está num lugar e, na verdade, está em outro; que já vai chegar e ainda falta muito para o destino final; que ficou preso no engarrafamento, contudo, milagrosamente, o trânsito está livre.
Ouvimos por aí as maiores barbaridades, a sociedade já até estipulou que essas tais barbaridades são normais. Ah, então tá.
Ninguém gosta de conversar com um louco, já que ninguém considera a si mesmo como louco e logo não há uma reciprocidade com o tal do louco. Que loucura! A conversa do louco também não bate com a do seu interlocutor. Logo é cada um falando de um assunto diferente. Mas espera aí! Briga de casal não é assim? O que? Não é só quando brigam, não?
Um louco exaspera a verdade. Ele a coloca para fora aos jorros, sem se importar se você quer ouvi-la ou não. Ele não está nem aí, nem aqui e, se bobear, nem lá. Muitas dessas verdades ninguém quer ouvir, algumas estão bem na nossa cara, são até necessárias, mas todos fingem que não as veem.
Todos têm um pouco de louco, um dia de loucura, de sair da rotina, das regras impostas pela sociedade, de fazer diferente pelo menos uma vez. Loucura também pode ser sinônimo de uma coisa maravilhosa. Coisa louca, mas num sentido bom. Aí todo mundo quer. Espertinhos, não!?
No fundo você acaba se perguntando: quem sou eu? quem é você? e quem somos nós? Que papo louco!
Louco. Todos não são.
Autoria de Alessandra Mourão

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Telefonema

Eu já havia colocado esse texto anos antes, aqui no blog, mas o blogspot apagou várias postagens minhas, então estou colocando novamente.
Telefonema
Eduardo – Alô! Oi, sou eu de novo.
Regina – A ligação caiu e...
Eduardo – Onde paramos?
Regina – Estávamos falando que...
Eduardo – Sim, sim, já tem 3 anos. É um tempinho legal, não acha?
Regina – Acho, mas...
Eduardo – Afinal, muita coisa acontece em 3 anos. Se você tivesse ficado grávida, a criança já estaria andando e tal. O tempo passa muito rápido. Você concorda?
Regina – Passa sim, agora...
Eduardo – Nem acredito, parece que tô sonhando.
Regina – Olha, não é um sonho, eu...
Eduardo – Tem certeza de que não é sonho? Podemos estar dormindo nesse exato momento.
Regina – Tenho certeza absoluta.
Eduardo – Absoluta?
Regina – Absoluta.
Eduardo – Ah, sabe tô tão emocionado. Se desse pra ver meu rosto pelo telefone, você veria as lágrimas nos meus olhos.
Regina – Imagino, eu...
Eduardo – Está prestes a se tornar realidade. Isso é bom, né?
Regina – Muito bom, mas vamos...
Eduardo – Acho que hoje é o dia mais feliz da minha vida. E você faz parte dele. São muito bons esses momentos felizes. Você lembra de algum momento assim da sua vida?
Regina – Lembro de alguns...
Eduardo – Eu lembro quando fui promovido no meu primeiro emprego. Fiquei seis meses esperando essa promoção. Foi uma satisfação enorme, igual a que tô sentindo agora. Você está emocionada?
Regina – Não sou de ferro, também fico emocionada.
Eduardo – Três anos! Foram três anos. Parece que foi ontem, ainda me lembro muito bem do primeiro dia. Era o final do campeonato.
Regina – Vocês homens associam tudo ao futebol.
Eduardo – Não lembra do primeiro dia?
Regina – Lembro sim, era um domingo, eu trabalhei...
Eduardo – Você lembra! Sabia! Que lindo. Fiquei emocionado de novo. Vou chorar.
Regina – Não, por favor...
Eduardo – Mas eu tô sentimental hoje, alegre, feliz, sei lá, droga. Tem alguma palavra que signifique mais do que alegre, do que feliz?
Regina – Radiante.
Eduardo – Estou radiante nesse dia histórico. É um dia histórico, né? Finalmente! Obrigado por fazer parte disso.
Regina – Imagina...
Eduardo – Modéstia?
Regina – Mas...
Eduardo – Três anos, nossa. Já é hora mesmo. Quando eu tô feliz, acabo falando demais. Vou me controlar, prometo. Agora fala você. Fala, vai.
Regina – Sim senhor, obrigado por manter contato conosco. Só um momento. Vou estar transferindo a sua ligação para o gerente geral. Por favor aguarde na linha.
TU TU TU TU TU
Eduardo – Ih, caiu a ligação. Não!!
Autoria de Alessandra Mourão

domingo, 24 de junho de 2012

Livros de Mão em Mão

O Projeto Livros de Mão em Mão tem como objetivo estimular a leitura em crianças, jovens e adultos.
Livros são deixados em locais públicos e, quem os encontra, após a leitura, deve repassá-los. Com essa circulação, espera-se atingir pessoas de diferentes níveis de escolaridade, valorizando a importância da leitura.
Você também pode ajudar, baixe o informativo e a ficha de controle, cole num livro que tenha em casa e deixe-o ir de Mão em Mão. Ele não precisa ser novo e pode ser sobre qualquer assunto. O importante é não deixar a ideia morrer e beneficiar o maior número de pessoas.
Se você quiser contribuir com esse projeto entre em contato. Sua contribuição será muito bem-vinda.
Baixe o informativo que será colado no início do livro. Ele explica o que é o projeto e como proceder. Informativo
Baixe a ficha de controle que será colada no final do livro. Através dela podemos ver por quais cidades o livro passou, trocar e-mails com algumas pessoas que já o leram e até deixar uma mensagem para os próximos leitores. Ficha de Controle

sábado, 23 de junho de 2012

O menino do dedo verde

A primeira vez que li O Menino do Dedo Verde, tinha por volta de 11 anos e foi para um trabalho da aula de Português. Fomos até assistir a peça no Teatro Princesa Isabel, aqui no Rio de Janeiro.
Tempos depois, em 2010, tive o prazer de reler essa maravilha, pois o musical que escrevia para a apresentação de final de ano da escola em que trabalho, era baseado nele.
A história foi escrita em 1957 pelo francês Maurice Druon e ainda está atual nessa época em que as pessoas se preocupam cada vez mais com questões ambientais.
Tistu é um menino especial, filho do Senhor Papai e de Dona Mamãe, mora na cidade de Mirapólvora. Pouco tempo depois que entrou na escola foi expulso, pois dormia nas aulas.
Sua família, então, decide que sua educação será na prática, vivenciando as coisas. Seu primeiro professor é o Senhor Bigode, o jardineiro da casa. Foi aí que Tistu descobriu que tinha o dedo verde. Onde ele encostava o seu polegar, nasciam plantas e flores.
Separei algumas frases interessantes do livro. Quem ainda não leu, não deixe de fazê-lo.
“Em que você está pensando Tistu? – perguntou-lhe um dia Dona Mamãe. Tistu respondeu: - Estou pensando que o mundo podia ser bem melhor do que é.”
“Tistu teve a impressão de que o sol perdia o seu brilho, o prado se tornava escuro e o ar difícil de respirar. São os sinais de um incômodo que as pessoas grandes pensam que só elas sentem, mas que as pessoinhas da idade de Tistu sentem também.”
“O Sr. Papai se lembrou das palavras do Sr. Trovões: A gente não pode se opor às forças da natureza. É claro que nada podemos contra essas forças, refletia Sr. Papai, mas podemos pô-las a nosso serviço.”
“Tistu pôs o chapéu de palha para ir à aula de jardim. O Senhor Papai havia julgado melhor começar por aí. Uma lição de jardim, é uma lição de terra, essa terra que caminhamos, que produz os legumes que comemos e o capim com que os animais se alimentam.”
“Aprendi que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. Aprendi que para a gente sarar é preciso ter vontade de viver. Doutor, será que não existem pílulas de esperança?”
“Quando os grandes falam em voz alta, as crianças não os ouvem, mas quando as pessoas grandes começam a falar em voz baixa e a dizer segredos, logo os meninos apuram o ouvido e procuram escutar justamente aquilo que não lhes queriam dizer.”
“Uma ideia que se instala em uma cabeça em breve se torna uma resolução. E uma resolução só nos deixa em paz quando a pomos em prática.”
“Para cuidar direito dos homens é preciso amá-los bastante.”

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Pequeno Príncipe

Meus trechos preferidos do livro O Pequeno Príncipe...
“As pessoas vêem estrelas de maneira diferente. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém terás estrelas como ninguém as teve...”
“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante. O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.”
“Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo.”
“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.”
“Num mundo em que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo. O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.”
“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.”
“Os homens do teu planeta cultivam 5 mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles procuram poderia ser encontrado numa só rosa, ou num pouco de água. Mas os olhos são cegos, é preciso ver com o coração.”
“É preciso que eu suporte 2 ou 3 larvas se quiser conhecer as borboletas.”
“Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.”
Lições eternas, lições de vida.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Rubem Alves

"Os livros precisam estar ao alcance das mãos. Em todo lugar. Na sala, no banheiro, na cozinha, no quarto. Muito útil é uma pequena estante na frente da privada, com livros de leitura rápida. Livros de arte, por exemplo! É preciso que as crianças e jovens aprendam que livros são mundos pelos quais se fazem excursões deliciosas."
Rubem Alves - Trecho do texto Casas que emburrecem

sábado, 9 de junho de 2012

Cartão de visitas

"Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia.
Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
- O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
- Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
- Mas é claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a História Universal. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda creem que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
- É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia?
- Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.
O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. No cartão estava escrito:
Professor Doutor Louis Pasteur
Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França
Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima."
Fato integrante da biografia de Louis Pasteur, ocorrido em 1892. Louis Pasteur, ilustre pesquisador francês que descobriu a vacina anti-rábica e impulsionou a criação do Instituto Pasteur de Paris e várias outras instituições, que receberam o mesmo nome, no mundo todo.

sábado, 2 de junho de 2012

O livro é passaporte, é bilhete de partida

Bartolomeu Campos Queirós
Desconheço liberdade maior e mais duradoura do que esta do leitor ceder-se à escrita do outro, inscrevendo-se entre as suas palavras e os seus silêncios. Texto e leitor ultrapassam a solidão individual para se enlaçarem pelas interações. Esse abraço a partir do texto é soma das diferenças, movida pela emoção, estabelecendo um encontro fraterno e possível entre leitor e escritor. Cabe ao escritor estirar sua fantasia para, assim, o leitor projetar seus sonhos.
As palavras são portas e janelas. Se debruçarmos e repararmos, nos inscrevemos na paisagem. Se destrancarmos as portas, o enredo do universo nos visita. Ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já decifrado. Escrever é dividir-se.
Cada palavra descortina um horizonte, cada frase anuncia outra estação. E os olhos, tomando das rédeas, abrem caminhos, entre linhas, para as viagens do pensamento. O livro é passaporte, é bilhete de partida.
A leitura guarda espaço para o leitor imaginar sua própria humanidade e apropriar-se de sua fragilidade, com seus sonhos, seus devaneios e sua experiência. A leitura acorda no sujeito dizeres insuspeitados, enquanto redimensiona seus entendimentos.
Há trabalho mais definitivo, há ação mais absoluta do que essa de aproximar o homem do livro?
Experimento a impossibilidade de trancar os sentidos para um repouso. O corpo vivo vive em permanente e vários níveis de leitura. Não há como ausentar-se, definitivamente, deste enunciado, enquanto somos no mundo. O corpo sabe e duvida. A dúvida gera criações, enquanto a certeza traça fanatismo.
Reconheço, porém, um momento em que se dá o definitivo acontecimento: a certeza de que o mundo pessoal é insuficiente. Há que buscar a si mesmo na experiência do outro e inteirar-se dela. Tal movimento atenua as fronteiras e a palavra fertiliza o encontro.
Acredito que ler é configurar uma terceira história, construída parceiramente a partir do impulso movedor contido na fragilidade humana, quando dela se toma posse. A fragilidade que funda o homem é a mesma que o inaugura, mas só a palavra anuncia.
A iniciação à leitura transcende o ato simples de apresentar ao sujeito as letras que aí estão já escritas. É mais que preparar o leitor para a decifração das artimanhas de uma sociedade que pretende também consumi-lo. É mais do que a incorporação de um saber frio, astutamente construído.
Fundamental, ao pretender ensinar a leitura, é convocar o homem para tomar da sua palavra. Ter a palavra é, antes de tudo, munir-se para fazer-se menos indecifrável. Ler é cuidar-se, rompendo com as grades do isolamento. Ler é evadir-se com o outro sem, contudo, perder-se nas várias faces da palavra. Ler é encantar-se com as diferenças.
Texto extraído do livro A formação do leitor - Pontos de vista

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Uma vida sem limites




Estou lendo o livro “Uma vida sem limites” de Nick Vujicic. Já havia visto um vídeo dele no youtube, mas sua vida é muito mais do que apenas alguns minutos. A força, esperança e paixão pela vida que ele tem, é uma lição para todos nós.

Nick Vujicic nasceu em 4 de dezembro de 1982, em Melbourne, na Austrália. Ele veio ao mundo sem braços e pernas devido a uma rara síndrome. Hoje em dia ele é palestrante motivacional e diretor da Life without limbs (vida sem membros), já tendo feito palestras em vários países do mundo.


Viver sem braços e pernas não é nada fácil, ainda mais quando o mundo é cruel. Quantas vezes nós, que nascemos com saúde e perfeitos, já reclamamos do cabelo que não é do jeito que queremos ou de alguma outra parte do corpo, que não nos deixa satisfeitos. Nunca se colocou tanta prótese de silicone, nunca se fez tanta lipoaspiração ou cirurgias corretivas. Pessoas estão ficando mais jovens, porém sem expressão, devido ao uso de botox. Será que tudo isso é mesmo necessário?

A mídia estimula a cultura de corpos perfeitos. É isso que os comerciais jorram na mente de milhões de brasileiros todos os dias. Imaginem quantos adolescentes e jovens que desejam ser aceitos por seu grupo de amigos, mas estão fora do padrão do corpo ideal. Nick teve que aprender a viver sem braços e pernas e a conviver com todos, pois seus pais sempre lhe deram uma vida normal. É essa bonita lição que ele nos dá. Se você não está satisfeito com seu corpo, com sua vida, leia o livro com a história completa.


Separei algumas frases interessantes e que podem nos ajudar em dias não tão felizes assim. Espero que possamos refletir e nos conscientizar de que, na maior parte do tempo, temos tudo de que precisamos para ser feliz e ter uma vida plena, nós é que colocamos empecilhos demais.


“Se não está onde queria estar ou se não realizou tudo que esperava atingir, o mais provável é que a razão resida não à sua volta, mas dentro de você. Assuma a responsabilidade e, depois, aja. Primeiro deve acreditar em si mesmo e no seu valor. Não pode esperar que os outros descubram seu esconderijo. Não pode ficar parado esperando que aconteça um milagre ou que apareça a oportunidade certa. Você deve pensar em si mesmo como uma colher de pau, e o mundo o seu caldeirão. Mexa a colher. Coragem!”

“Nossa capacidade humana de usar a razão pode ser uma benção e uma maldição.”

“Às vezes Deus espera que você dê uma ajudinha com o trabalho pesado. Você pode ter desejos, esperanças e sonhos. Mas também deve se mexer e agir para realizá-los. Deve se esforçar para ir além dos seus limites a fim de chegar ao lugar em que deseja estar.”

“Você recebe as maiores recompensas da vida quando é generoso, quando se doa, sem pedir contrapartida. A ideia é melhorar a vida das pessoas, ser parte de algo maior do que você mesmo e fazer uma diferença positiva.”

“A essência da vida não é ter, mas ser. Você pode se cercar de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar e mesmo assim se sentir um ser humano completamente infeliz.”

“Uma das melhores maneiras que encontrei para aguentar firme e segurar as pontas, mesmo quando minhas preces não são atendidas, é ajudar outras pessoas. Se seu sofrimento é um fardo, tente aliviar a dor de outra pessoa e lhe dê esperança. Anime-a e ofereça alento, de modo que ela se sinta reconfortada no consolo de saber que não está sozinha em seu padecimento. Ofereça compaixão quando precisar de compaixão. Seja amigo quando precisar de amizade. Dê esperança quando mais necessitar dela.”

“Nunca se esqueça de que Deus jamais desiste de você. Continue caminhando sempre em frente, porque a ação cria ímpeto e força viva, que, por sua vez, geram oportunidade inesperadas.”

“A esperança é um catalisador. Ela pode remover obstáculos que parecem intransponíveis. Quando você insiste, recusando-se a desistir, cria ímpeto e movimento. A esperança gera oportunidades que jamais teria previsto.”

“Precisamos assumir a responsabilidade por nossa própria felicidade e sucesso. Seus amigos e familiares podem ajudá-lo em momentos difíceis. Seja grato por isso. Agradeça a generosidade deles, mas continue se esforçando. Quanto mais você se empenha, mais oportunidades cria.”

“Muitas vezes as adversidades que parecem nos atrapalhar, na verdade, nos deixam mais fortes. Você deve estar aberto à possibilidade de que a desvantagem de hoje pode ser a vantagem de amanhã. Concluí que minha falta de braços e pernas é um trunfo, um recurso a meu favor. Homens, mulheres e crianças que não falam a minha língua só precisam olhar para mim para saber que superei muitos percalços.”

“O segredo para seguir em frente, mesmo nos períodos mais difíceis, é deixar que seu sonho de vida seja guiado não por aquilo que você pode ver, mas pelo que pode imaginar. Isso se chama ter fé”

“Todos temos limitações. Jamais serei um astro do basquete, mas tudo bem, porque posso inspirar as pessoas a serem as estrelas de sua própria vida. Você jamais deve viver de acordo com o que falta. Em vez disso, viva como se pudesse fazer tudo aquilo que sonha fazer. Mesmo quando você sofre um revés ou passa por uma tragédia, sempre há um benefício inesperado, totalmente improvável e absolutamente impossível.”

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A mais bela história

Essa história começou quando meu irmão comprou uma oficina mecânica no final de 2006 e, com ela, vieram 5 gatos que lá moravam. Em janeiro do ano seguinte fui conhecer o local e me apaixonei por uma das gatas, que estava prenha. Três dias depois meu pai saiu de manhã, como todos os dias, levando comida para os felinos da oficina. Na hora do almoço meu irmão retornou, trazendo a comida de volta e dizendo que um dos mecânicos havia jogado todos os gatos fora, só deixando a “barriguda”. Na mesma hora me desesperei – como uma pessoa pode jogar fora seres vivos? Pedi, então, que eles trouxessem a gatinha para ficar com a gente, porém tive que enfrentar uma batalha com minha mãe, que não gostava desses bichinhos e alegava que já tínhamos uma gata.
Foi um dia de choro, descrença, raiva e luta para que a gata viesse morar conosco. À noite, contra todos os argumentos da minha mãe, eles chegaram com a “barriguda”. Ela, muito assustada, entrou debaixo da geladeira e lá ficou. As pessoas ignoram que os animais são seres vivos, sentem dor, fome, medo, sede e também o amor que temos por eles. São criaturinhas de Deus.
Prometi para a minha mãe doar todos os filhotes, e, assim, ela ficou na nossa casa. Quatro dias depois eles nasceram. Um de cada cor. Novamente tive que ouvir as reclamações e pressões da minha mãe - uma hora era o sofá cheio de pelos, outra a sujeira e até que eles pareciam camundongos. Fiz vários panfletos para adoção e distribuí pela cidade. Consegui doar dois para uma pessoa e sofri muito com a dor da mãe procurando seus filhos. Ela, miando de um lado e eu, chorando de outro. Com o coração partido, pensava: “Por que eles não podem ficar? Onde alguns ficam, a gente se aperta e os outros se ajeitam.”
Depois de várias desistências de futuros donos, resolvi assumir o que eu queria desde o começo – ficar com eles. Agora eram cinco gatos em casa – a gata que eu já tinha, a ex-barriguda, que recebeu o nome de Noelle, em homenagem a Sidney Sheldon, já que ela chegou na semana em que ele se foi e seus três filhotes.
Assim fomos vivendo entre as reclamações em casa e o trabalhão que dava e que ainda daria, afinal, só de fêmeas, eram quatro e não queríamos mais filhotes. Em pouco tempo todos já estavam castrados e felizes. Certas vezes até pensava por que essa situação tinha acontecido. Foram tantas lutas, choros, emoções. Se eu não soubesse de nada que havia acontecido na oficina, não teria tantos problemas. Apesar do amor que sentia por eles, enfrentar a minha família todo dia, era difícil, eles tinham o direito de não gostar e eu de gostar.
No dia 31/08/07 Noelle deu uma escapadinha para o nosso quintal. Não deixamos os gatos saírem sem alguém olhando, mas como ela era gata de rua, a deixava um pouco livre nas raras vezes em que acontecia. Começamos a nos assustar quando ela não voltou. Eu já havia ido trabalhar, mas ligava a todo o momento para casa, no intuito de ter notícias. Perguntamos a todos e ninguém sabia de nada. No dia seguinte meu pai falou com um vizinho que não havíamos falado antes e ele disse que alguns garotos estavam procurando uma gata grávida e ele achou uma na casa dele, deu para os meninos e ajudou a levar a caixa até uma favela próxima. Sim, ele havia dado a minha gata. Ele ainda tentou consertar dizendo que não era a mesma da foto, que estava prenha, enquanto Noelle já era castrada. Mas só podia ser ela.
No mesmo dia ele e meu pai foram até a tal favela onde os meninos moravam para tentar localizá-los, mas a avó deles disse que não tinha nenhuma gata lá. Se Noelle tivesse ido embora por conta própria, saberia voltar, com certeza, mas dentro de uma caixa fechada...
Foi aí que começou a minha batalha. Foram cartazes, idas à favela, mensagens pela Internet e nada. No sábado seguinte meus pais conseguiram encontrar os garotos em casa e chegaram com essa boa notícia, só que havia a notícia ruim também, ela tinha entrado num buraco de uma obra da casa vizinha e não saía de lá. Será que estava presa? Ferida? Foram dias de muita agonia. Imaginar a Noelle ser tirada do seu lar seguro e largada numa favela com fome, sede, gente estranha, me atormentava. O que me chamava atenção, também, era que havia nessa história muitas coincidências. Ela nunca ia para o quintal e foi exatamente no dia e na hora em que umas crianças procuravam uma gata. E o vizinho saiu de casa ao mesmo tempo em que as crianças estavam na rua. E por que ela não pulou de volta para minha casa? Por que eles não encontraram os meninos logo no primeiro dia que foram lá? E ainda por cima a avó mentiu. Coincidências não existem, sempre acreditei nisso. O que era tudo isso, então?
Nesse período li alguns livros que nos ensinam que tudo é possível, basta querer. Ouvia as pessoas contando histórias de gatos que tinham voltado para as antigas casas, após uma mudança, mesmo estas sendo bem distantes. Isso me deu muita força para seguir adiante. Munida de escada, ração e muita determinação, voltei até a favela para, eu mesma, olhar dentro do tal buraco. Pulei o muro de uma casa vazia, em obras, numa favela do Rio de Janeiro. Gritei, chamei, fiz barulho com o saco de ração. Olhei, me rastejei, me machuquei e nada. Ela não estava ali. A não ser que estivesse morta lá dentro.
Nunca desisti dela, nem quando um outro vizinho falou: “Não quero te desanimar, mas vai ser difícil ela voltar.” Nem quando recebi um telefonema de alguém que viu o anúncio no poste e me disparei até lá para constatar que não era ela. Ainda bem que a outra gata perdida já fazia amizade com a família. Teria ela um novo lar? Torci para que a resposta fosse positiva. Mas cadê a mãe dos 3 gatinhos que estavam na minha casa? Os dias passavam e parecia que cada vez mais as chances de encontrá-la diminuíam. Quanto tempo um gato fica sem comer? Eram tantos questionamentos.
Comecei a mudar a estratégia. Ao invés de mentalizar com todas as minhas forças que ela voltaria, comecei a agir como se ela já tivesse voltado. Chegava do trabalho com a expectativa de encontrá-la e, quando não a via, não ficava decepcionada, apenas mudava de pensamento imediatamente. Difícil? Tudo é possível para quem acredita.
Nessa época dava aulas de teatro às sextas-feiras pela manhã e tinha 2.30h livres até pegar minha turma de educação infantil à tarde. Aproveitava esse tempo para caminhar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Muitas vezes olhava a pista e, como estava totalmente livre, fechava os olhos e seguia imaginando ela em casa, com os filhotes, feliz, me esperando na varanda. Massacrava a minha mente com frases do tipo: “Tudo é possível”, “Podemos conseguir o que queremos”, “Se eu imagino, posso realizar”, “A nossa mente é poderosa, pode fazer coisas que nem imaginamos”, “Acredite!”. E eu acreditava.
O tempo passava e nada. Os meninos falaram que ela havia fugido de lá e não a viram mais. Meu coração apertava, mas eu seguia em frente. Resolvi que não faria nada para comemorar meu aniversário, dia 21/9. Ia ficar quietinha em casa. Nesse ano, a data caía numa sexta, então dei minha aula, caminhei na Lagoa, voltei para a escola, trabalhando a tarde toda. Quando cheguei em casa, à noite, minha mãe me falou: “Olha para trás.” E tal foi minha surpresa ao ver minha gata de volta. “Como?” – perguntei. Para ouvir a explicação de que os meninos conseguiram pegá-la. Foi o meu melhor presente de aniversário. Exatamente 21 dias depois do seu “sequestro”, ela retornava. O que me chamou a atenção foram os 21 dias. Sempre escuto alguma coisa relacionada ao número 21. O que ele tem de tão especial? Eu não sei, mas sei que eu consegui, ela voltou!
Por mais que o mundo inteiro te diga que seu sonho é impossível, que você não vai conseguir, se você quer mesmo, não desista nunca. Nunca! O Universo não para de conspirar a seu favor. Acredite! Eu acreditei!

** No dia 15 de maio de 2018 Noelle, a minha Lourinha, foi para o céu dos gatinhos. Morreu de velhice e seus 3 filhos continuam morando comigo. Te amo, Loura!